Sonho de garoto

Copa Davis é a competição mais legal que existe em todo o âmbito do tênis mundial, mas isso não vem ao caso. O que importa é que comecei a me interessar pelo esporte por causa de tal competição. Cresci vendo Guga, Flávio Saretta e Ricardo Melo buscando levar o Brasil para o grupo mundial, porém, todas as tentativas em vão.

Lembro-me perfeitamente da primeira vez que parei para acompanhar o Brasil na Davis. O ano era 2006. Tinha 9 anos de idade, não tinha muita noção da coisa. Começava a pegar gosto pelo esporte ainda mais porque desde pequeno pratico tal modalidade. Tudo isso por influência de meu pai, grande fanático por tênis.

Mas bem, a verdade é que já nessa época o Sportv detinha os direitos de transmissão dos principais campeonatos, inclusive da Copa Davis, e em casa ainda não havia tal canal na grade da operadora de TV que assinávamos. Meu pai, bastante fanático, costumava acompanhar tudo por tempo real em sites como Terra e UOL, nunca procurei entender nem saber o porque dele passar horas atualizando aquele placar sempre torcendo sem ao menos ver uma imagem da partida.

Até que em um dia decidi parar e perguntar o que era aquilo lá e o que significava tudo. Meu progenitor com toda calma do mundo parou pra me explicar toda a situação do Brasil na Davis, explicou a competição, falou de como funcionava e que era preciso ganhar aquele jogo contra a Suécia. Acabei me interessando. Puxei uma cadeira e sentei do lado dele pra acompanhar aquele placar.

E lá estávamos eu e ele gritando, batendo palmas, torcendo sem ao menos ver o jogo. Era algo indescritível, mais do que emocionante.

Lembro da decepção em ter visto o Brasil ter perdido para a Suécia naquele ano de 2006. Comecei a acompanhar e logo de cara uma decepção, só que peguei gosto pela coisa e esperava ansiosamente por mais jogos da equipe brasileira na Davis. E quando havia, era certeza lá estava eu e meu pai na frente do computador vibrando com a transmissão em tempo real.

Passou 2006, veio 2007 e derrota pra Áustria. Em 2008, o revés foi contra a Croácia. Eis que chega 2009, o sorteio aponta um confronto diante do mediano Equador em casa, para completar havia assinado o Sportv, logo de cara eu e meu pai já pensamos: esse ano acaba o calvários. Sentamos juntos para acompanhar a partida, só que nossa expectativa de vitória se foi, restou o consolo, parecia que o dia que o Brasil ia voltar para o Grupo Mundial da Copa Davis nunca ia chegar, ainda mais quando, em 2010, Belucci e cia perderam para a Índia.

2011. Uma manhã de domingo. Brasil encarava a Rússia na briga por uma vaga no grupo de elite da Davis. Mais uma vez, eu e meu pai juntos torcendo. Sabíamos que era difícil uma vitória, mas estávamos confiante. O jogo da vez era entre Bellucci e Youzhny. Um triunfo de Thomáz levava a equipe tupiniquim de volta para o alto patamar da Davis.

Não colocávamos fé no brasileiro, mas ele jogou demais (provavelmente uma das melhores atuações que já vi dele) e ele chegou a ter um match point, nos levantamos, nos abraçamos, sentimos que era hoje o dia, mas não foi. O russo ressuscitou, fechou o jogo e jogou fora nossas esperanças.

Chegou 2012. Mais uma vez jogo contra a Rússia. Sem o mesmo alarde, sem a mesma expectativa de todos os anos, tanto que eu e meu pai não paramos para acompanhar o jogo com o mesmo êxtase, até porque o jogo na tarde de sexta complicou os planos.

Sábado, 15 de setembro de 2012. Após duas vitórias no primeiro dia de disputa, basta Bruno Soares/Marcelo Mello confirmarem o favoritismo no jogo de duplas para garantir o Brasil de volta ao grupo mundial da Davis. 

Depois de estudar durante a tarde inteira, paro pra fazer um lanche, ligo a TV, brasileiros a dois pontos de se garantir no Grupo Mundial da Davis, dessa vez vejo o jogo sozinho, tudo o que foi relatado nesse texto começa a passar na minha cabeça, não consigo segurar a emoção, bola pra fora do russo. Acabou o jogo. Brasil de volta ao Grupo Mundial da Davis. Não consigo acreditar. Começo a andar pela casa. A ficha não cai de forma alguma.

Meu sonho de garoto se realizou. Não vi o jogo inteiro, não vi com meu pai. Mas vi o último ponto, vivi todo esse sofrimento, toda essa espera. Hoje é o dia. Nada mais importa. O Brasil está de volta a elite do tênis mundial.

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