Entrevista: Fabiana Beltrame


Principal expoente do remo feminino no Brasil, Fabiana Beltrame vem colecionando glórias no esporte, que ainda carece de apoio em nosso querido país. Contudo, a remadora já vem batalhando há um bom tempo e colhe os frutos desde o ano de 2004, quando sagrou-se a primeira atleta brasileira a disputar a modalidade em uma Olimpíadas.

Ano passado, Beltrame sagrou-se campeã mundial na categoria skiff simples leve, título inédito ao esporte brasileiro. Contudo, a categoria que conseguiu sua glória máxima, infelizmente, não faz parte do cronograma olímpico. Mas, apesar deste fato, a atleta já garantiu vaga nos próximos Jogos Olímpicos na categoria skiff duplo leve, confirmando sua tamanha qualidade.

De maneira muito gentil, Fabiana aceitou conceder uma entrevista por email ao blog. Veja abaixo o papo com a grande musa do remo nacional:

Negrito: Felipe Ferreira (Blog Território Esportivo)
Normal: Fabiana Beltrame


1- O remo não é um dos esportes tão populares no Brasil e carece de um grande apoio. Quando e como veio a ideia de seguir a carreira em tal esporte como profissional?
Comecei a remar em 97, no Clube Náutico Francisco Martinelli, em Florianópolis, só de brincadeira, porque sempre gostei de praticar esportes. Mas a brincadeira começou a ficar mais séria, depois que competi meu primeiro campeonato brasileiro e venci. A partir dali meus objetivos no esporte foram crescendo, assim como meus treinamentos.

2- Em 2004, você conquistou o feito de ser a primeira remadora brasileira a disputar os Jogos Olímpicos e ainda de quebra conseguiu uma grande 14ª colocação. Qual o sentimento de ter conseguido estas duas grandes conquistas?
Fiquei muito orgulhosa das minhas conquistas. Foi a partir dali que me tornei uma referência no remo e o esporte apareceu bastante na época. Fiquei feliz em poder ajudar na divulgação dessa modalidade tão bonita.

3- No ano de 2008, mais uma vez, você garantiu vaga nas Olímpiadas. Visto que já estava mais madura, a esperança em relação a um resultado ainda melhor do que o de 4 anos atrás era grande, porém, acabou por vir a 19ª colocação, boa posição, porém, pior em relação ao desempenho dos Jogos em Atenas. O que achal que faltou para ter ido melhor em Pequim?
A preparação foi muito ruim. Até alguns meses antes dos Jogos, eu estava bem. Depois a Confederação Brasileira nos levou ao Pico das Agulhas Negras para fazer um treinamento de altitude por três semanas, logo antes dos jogos, numa temperatura de -10ª C, quando na China estava mais de 40ºC. Além de termos remado apenas algumas vezes na água. Foi uma catástrofe...

4- Após um ano sem competir em função da gravidez, sua volta se deu no ano de 2010. Neste período, você acabou por perder peso e passar da categoria pesado para a leve, acredita que este fator tenha sido fundamental para os mais recentes grandiosos resultados?
Com certeza, na categoria peso leve me tornei mais competitiva. Para a categoria aberta, eu era muito leve em comparação as minhas adversárias, já na atual categoria, a disputa ficou mais justa, por que todas competem com o mesmo peso.

5- Assim que voltou às competições em 2010, logo conseguiu um brilhante 3° lugar em uma etapa da Copa do Mundo e um sensacional 4° lugar no Mundial, onde ficou a apenas 13 centésimos de subir ao pódio. Era esperado obter tão grandiosos resultados após ter ficado este tempo afastada do esporte?
Realmente não esperava. A medalha na Copa do Mundo em 2010 foi uma surpresa muito grande e me deu mais motivação a continuar nessa categoria, pois vi que era possível conquistar resultados inéditos para o remo do Brasil.

6- O ano de 2011 foi muito marcante para sua carreira ao conseguir mais um feito inédito para o remo brasileiro. No Mundial, você acabou por conquistar a medalha de ouro, resultado simplesmente espetacular. Considera que esta medalha ajudou a dar um alavanque maior não só a sua carreira, como também para o seu esporte?
Acho que depois dessa conquista, o remo apareceu muito mais do que costumava aparecer. Agora sou vista como uma promessa de medalha nos Jogos Olímpicos, apesar de eu achar que está muito cedo pra pensar nisso.

7- A categoria que você conquistou suas maiores glórias recentes foi o single skiff peso-leve, no entanto, tal categoria não integra o cronograma olímpico. Em Londres, você disputará o double skiff peso-leve juntamente com Luana Bartholo. Como está sua adaptação a nova categoria? Quais as expectativas para os Jogos?
Estamos treinando muito para conquistar mais um bom resultado, mas ainda não podemos falar em medalha, porque somos uma formação muito nova e a Luana está apenas estreando na seleção brasileira. Ainda estou me acostumando a remar com outra pessoa, porque a maior parte da minha carreira competi sozinha, mas acredito que estamos evoluindo a cada treino e se continuarmos juntas, podemos pensar numa medalha aqui no Brasil em 2016.

8- Já têm em mente quais deverão ser suas principais adversárias na briga por uma medalha nos Jogos de Londres?
Acredito que todos os países são nossos adversários diretos, por que lá estão os melhores do mundo. Mas em minha opinião, as favoritas a medalha são Grécia, Inglaterra e Canadá. Mas de uma forma geral, todos os países europeus são muito fortes.

9- Você leva o status de musa do remo. Gosta dele? Acha que ajuda a divulgar mais seu trabalho?
Acho que faz bem para o ego e também ajuda a divulgar o esporte e acabar com o restinho de preconceito que ainda tem, de o remo ser um esporte masculino. Acho que inspira outras mulheres a também praticarem.

10- O que acha que falta para que o remo traga mais glórias e seja mais popular no Brasil?
O que falta é organização e planejamento a longo prazo, investimento na categorias de base, assim como aconteceu com o volei.

11- Muito obrigado pela entrevista! Peço que deixe um recado aos leitores do blog.
Gostaria de convidar a todos pra torcerem muito pelo Brasil nos jogos Olímpicos, especialmente o remo. Nós estamos treinando bastante para dar muito orgulho para todos os brasileiros!

This entry was posted on quinta-feira, 3 de maio de 2012. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.

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