O jogo do sangue na água


Em meio a uma onda de revoltas e protestos contra a invasão de sua nação por parte da União Soviética (URSS), a seleção húngara travou, nas Olimpíadas de Melbourne em 1956, uma verdadeira batalha contra os soviéticos, em partida válida pelas semifinais do pólo aquático.

No final do mês de outubro de 1956, o clima de tensão tomava conta da Hungria. Imensa parcela da população pedia o fim da subordinação a URSS, manifestações pacíficas acabavam com violenta repressão e, por fim, uma imensa armada de tanques soviéticos, aliada a grandes ataques aéreos, colocou fim no exército húngaro em qualquer chance de revolução na nação, que só se encontraria livre em 1991.

Mas bem, na situação citada acima que a seleção húngara masculina de pólo aquático, tida como uma das potências do esporte, foi obrigada se preparar para a competição, onde teria a grande rival URSS como uma das grandes concorrentes.

Na primeira fase, surpresa nenhuma. Os grandes favoritos (Iugoslávia, Estados Unidos, URSS, Hungria, Itália e Alemanha) passaram de fase com extrema vantagem e partiam em busca da glória olímpica, que seria definida em um confronto direto de todos contra todos, no final, a equipe com mais vitória acabaria sendo campeã.

A Hungria, apesar de turbulências internas, era a grande favorita e confirmava tal status. Até que chegou o dia 6 de dezembro, que reservava um confronto entre Hungria e URSS, em jogo que prometia ter apenas mais uma vítima do timaço húngaro, mais as rixas internas entre as duas equipes acabaram tomando conta das piscinas.

Desde seus minutos iniciais, a partida já tomava proporções. Um soco aqui, um pontapé ali, mas o talento húngaro prevalecia e a não tardou para a grande equipe abrir uma grande vantagem de 4 a 0, até que nos minutos finais do jogo, " o pau comeu", como bem diz a linguagem popular.

O soviético Valentin Prokopov estava marcando o húngaro Ervin Zádor (foto), até que ambos  começaram a trocar "elogios", contudo a paciência do jogador da URSS acabou por durar pouco e ele acabou por desferir um soco em Zádor e dessa forma a violência rolou solta.

Reservas entraram só para participar da confusão e exaltados graças as confusões extra-campo de ambas as nações, até mesmo os torcedores participaram do quebra-quebra. A arbitragem não tinha mais controle algum, acabando por suspender a partida antes de seu término, já que a piscina de Melbourne transformou em um verdadeiro campo de batalha.

Relato de Ervin Zádor, jogador húngaro, sobre a partida: "Eu olhei para o árbitro, eu disse 'Para que serve o apito?' E no momento em que fiz isso, eu sabia que tinha cometido um erro terrível. Virei para trás e com um braço esticado, ele (Valentin Prokopv) me deu um tapa na cara. Ele tentou me dar um soco. Eu vi cerca de 4.000 estrelas. Relei em meu rosto e senti o sangue quente escorrendo. E eu imediatamente disse: 'Oh meu Deus, eu não vou poder jogar o próximo jogo' ".

Mesmo com essa guerra travada nas piscinas, ambas as equipes voltaram a jogar um dia depois de toda confusão. A URSS enfrentou a Alemanha, venceu por 6 a 4, ficando com a medalha de bronze. Já a Hungria não se abateu, venceu a Iugoslávia por 2 a 1, ficando com o ouro.

Mas bem, poucos se lembram do resultado final da competição do pólo aquático nas Olimpíadas de Melbourne-1956, mas do histórico confronto do sangue na água, todos se lembram...

Obs 1: O post foi sugestão do amigo Regys Silva (@regys_silva).

Obs 2: O blog sempre estará trazendo histórias olímpicas nos próximos meses, só não garanto um dia, semana, quinzena, mês certo para fazer, pois seguirei minha disponibilidade.

Obs 3: Se quiser saber mais sobre este histórico confronto, "carinhosamente" apelidade do jogo do sangue na água, recomendo que assistem o filme "Sangue Nas Águas" que fala muito bem da partida e do contexto histórico.

This entry was posted on quinta-feira, 1 de setembro de 2011 and is filed under ,,,. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.

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